top of page

NANÃ

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Este Orixá tem forte relação com todas as Iyabás, as Mães d’água, e assume, junto à Yemanjá, o papel de Grande Mãe do mundo. Em algumas tradições inclusive, ela assume, junto à Obatalá o papel de polaridade feminina na Criação.

O “na” que compõe seu nome tem o mesmo significado do “ye” de Yemanjá, ou seja, “mãe”. No entanto, para nós, ela assumiria mais o papel da avó mítica que o papel da mãe. E mesmo que possa parecer estranho, o símbolo da avó, a mãe da mãe, assume características bastante diversas. Aqui podemos ver a maternidade em sua forma mais madura, mais sábia. Nanã representa a sabedoria e a senioridade, a calma e a paciência que são conquistadas através da experiência de vida e somente após longo tempo de vida neste planeta.

 

Nanã é representada pelo barro primordial, pelas águas profundas e calmas e, por isso, pelas lagoas.

É a senhora do profundo e assume a responsabilidade de zelar pela vida antes e depois da encarnação. Enquanto Oxum zela pela gestação e Yemanjá pela maternidade, Nanã é quem trás o espírito que virá assumir determinado corpo e o encaminha após seu tempo na Terra. Aqui assume forte relação com Omolu em seu papel de Senhor da Morte. Habita em conjunto com Omolu os cemitérios e muitas tradições africanas não estabelecem qualquer diferença entre esses dois Orixás, como se fossem duas facetas da mesma moeda. Nós não compartilhamos desse entendimento de forma plena mas respeitamos a grande relação desses dois Orixás. Preferimos a representação deles como Mãe e Filho. Mas em muitos casos fica realmente difícil dizer onde começa a influência de um e termina a do outro. Assim como todos os Orixás, como representações da força maior de Olorum, nem sempre sua manifestação pode ser claramente definida e catalogada como a mentalidade ocidental gostaria.

 

Nanã, quando manifestada em um ritual, carrega o Ibirí, sua ferramenta, como uma mãe que embala o filho entre os braços. Seu simbolismo se aproxima do xaxará de Omolu, e ambos são feitos, em essência, dos mesmos materiais. Enquanto Omolu utiliza o Xaxará para livrar o mundo de toda doença, Nanã carrega o Ibirí como se este fosse o próprio Omolu. Dizem d´Ela que é a senhora da vassoura, em alusão ao seu poder de limpeza energética. Também aqui podemos encontrar outra utilização do Ibirí. Nanã é a avó mítica, aquela que mima os netos e encara a vida com a sabedoria  adquirida com a idade. Seria a senhora Sant’Ana católica, avó de Jesus. Sua energia acaba sendo bastante delicada de lidar uma vez que os seres humanos ainda não possuem a devida maturidade exigida por essa Grande Senhora.

 

Muitas casas limitam o número de filhos que podem ser consagrados à Nanã e em muitos Templos, um filho de Nanã só poderá ser feito após o desencarne de outro. A delicadeza da energia de transformação em sua forma feminina acaba por exercer mais espanto que a energia de Omolu. Como lidamos mal com os processos de transformação! Isso fica claro com os mantras tanto de Nanã como de Omolu. Quando salvamos esses grandes Orixás, diríamos “atotô!”, ou seja, “silêncio!” em sinal de respeito e temor ou ainda diríamos “salubá!” que alguns entendem como “escondam-se” como se a força que se apresenta fosse também digna de respeito mas, acima disso, de temor.

 

Verger aponta a influência desse Orixá naquelas que o carregam de frente em sua coroa mas nos parece que o faz com ênfase em sua “oitava superior” quando a relaciona com “o arquétipo das pessoas que agem com calma, benevolência, dignidade e gentileza. Das pessoas lentas no cumprimento de seus trabalhos e que julgam ter a eternidade à sua frente para acabar seus afazeres. Elas gostam das crianças e educam-nas, talvez, com excesso de doçura e mansidão, pois têm tendência a se comportarem com a indulgência dos avós. Agem com segurança e majestade. Suas reações bem-equilibradas e a pertinência de suas decisões mantêm-nas sempre no caminho da sabedoria e da justiça”¹.

 

Já Beniste o faz de forma mais realista em nosso entendimento quando cita como características:

“São velhas antes do tempo – lentas nos atos e ações – calmas, equilibradas, trabalhadoras, gentis, dignas – têm reservas sobre os homens – resistência física, austera, sem beleza ou vaidade – não suportam desordem e desperdício – gostam de crianças – reclamam muito – são sábias, carinhosas, ranzinzas – são dadas a cozinhar e costurar”². Nanã tem relação, no corpo humano, com o aparelho circulatório e, em conjunto com Omolu, com todos os ossos.

Como é uma divindade associada aos primórdios da criação, quando se manifesta em seus filhos, dança com movimentos lentos e dignos. Os emblemas, objetos rituais, cantigas, saudações e mitos que constituem seu culto também destacam os três elementos aos quais Nanã está associada: água, lama e morte.

 

Nanã quando se manifesta em seus filhos carrega o Ibirí na mão direita ou o coloca sobre as duas mãos, imitando o movimento de ninar uma criança. Este cetro é a representação mais importante de Nanã. Segundo um de seus mitos de fundamento, Ela nasceu com ele, ele não lhe foi dado por ninguém. Ibirí significa “meu descendente o encontrou e trouxe-o de volta para mim”. Quando Nanã nasceu a placenta continha o Ibirí. Na África, quando as filhas de Nanã seguram o Ibirí, ele é recoberto com pó de Ossum. Todos os emblemas que significam descendência estão sempre cobertos ou submersos em “sangue vermelho”.

 

A Relação de Nanã com os descendentes existentes em seu interior e com a fertilidade (descendentes nascidos de seu ventre no aiyê) está simbolizada pelo uso abundante de búzios. Os búzios pertencem ao branco. Porém, os búzios não simbolizam o branco genérico, como o Alá de Oxalá, mas porções do branco, seres individualizados, unidades que resumem ou sintetizam a interação dos dois poderes genitores.

Nanã é a senhora das águas paradas, dos pântanos e lagoas, das areias movediças e das poças d’água.

 

É a senhora da lama, por excelência: a síntese de elementos primordiais, podendo ser definida como “início, meio e fim”. Conta um mito que Obatalá tentara criar o homem, cumprindo uma determinação de Olorum. Obatalá experimentara vários elementos para confeccionar a criatura sem obter resultado favorável. Decidiu apelar a Nanã. A Iyabá aceitou colaborar, impondo uma condição: seu elemento, o barro, retornaria para ela após o período da passagem da criatura no Aiyê. Obatalá aceitou a condição. Com a lama modelou o boneco, derramando-lhe o próprio hálito. Assim nascera a vida no Aiyê.

 

Nanã se apresenta na forma de uma senhora idosa e muito lúcida, sábia, poderosa e que tem conhecimento do próprio poder. Ela é justa e solitária, forte e corajosa, e, mais do que tudo, dotada de um caráter ambíguo, pois ela é a fonte de vida dos seres humanos, mas também é a Senhora de Iku, a morte, que está eternamente a seu serviço.Nanã também está intimamente ligada a seu filho Omolu, o responsável por transformar o falecido na matéria-prima que lhe pertence, devolvendo-lhe a forma original para que seja novamente emprestada a Obatalá, entregue à eterna tarefa de modelar e animar os viventes.

 

Seus filhos têm o arquétipo da fase madura da vida, agindo com calma, dignidade, gentileza, segurança e majestade, guardando sempre um impressionante senso de justiça. São excelentes conselheiros, experientes, sábios, cheios de bondade e piedosos. Tranqüilos e caseiros, são comparáveis a uma avó, daí ser sincretizada com Sant’Ana. Como Yemanjá é mãe devotada e interessada nos problemas dos filhos. Seu aspecto terrífico, porém, é o de Senhora das Almas, a mãe dos mortos. Outra grande característica dos filhos de Nanã é a sua capacidade para os trabalhos pesados. São superlaboriosos e gostam de que os outros reconheçam esta sua qualidade. Trabalham com afinco, mas vibram quando desempenham a maior parte das tarefas sozinhos. Isto é motivo para que se sintam indispensáveis e extremamente úteis, tendo muito o que falar.

 

Cuida da elevação dos seus filhos espiritualmente e da sua regeneração. Detesta a arrogância e a teimosia, grande defeito de seu esposo Oxalá. Prefere dar conselhos a favores. Entretanto, é capaz de resolver as maiores dificuldades, decidindo com justiça causas aparentemente perdidas. Só atende aos filhos que veja mérito e habilidades especiais. Não atende aos fracos, volúveis e hesitantes.

Seu olhar tem um brilho hipnótico que paralisa os que se atrevem a contemplá-La diretamente. É freqüente ser vista por aqueles que irão morrer. Entretanto, sua aparição pode indicar que alguém fez um feitiço contra quem a vê.

 

São dados a falarem sozinhos, bem baixinho. Costumam ser divertidos, ferinos, dramáticos ao extremo, contadores de anedotas, amantes de festas e de danças, mas um pouco masoquistas, hipocondríacos e manhosos. São apreciadores de boa bebida, bebendo com controle, de ambientes públicos e de xiliques! São ciumentíssimos, condição que detestam que transpareça. Por ciúme é capaz de ficar sem falar com alguém pelo resto da vida. Têm dificuldade em perdoar os defeitos alheios. São rancorosíssimos e chorosos. Quem lhes aprontar alguma que se cuide, pois raramente os pedidos de perdão serão aceitos. Detestam o ridículo e o escândalo público, mas não têm medo de briga, sendo capazes de ir até as últimas conseqüências. Detestam que invadam a sua privacidade, apesar de terem uma certa tendência a botarem o bedelho na vida alheia, sem que sejam solicitados. Nanã é mãe de Omolu, Oxumarê e Ossaiyn.

 

Origem do nome: Nàná Burúkú (Nana, mãe idosa; Buru, que leva e traz; Ikú, morte; ou seja, Salve a Grande Senhora que traz para Vida e recebe na Morte!)

Mantra:  Salubá! (Escondam-se!)

Toque: Satô, Opanijé

Qualidade divina: Orixá da transcendência, ou seja, a Força Cósmica que faz a ligação entre o plano espiritual e o plano material. É a força que traz o ser à encarnação e o leva após a morte. É Nanã quem nos socorre em momentos de dor e pranto.

Instrumento/Insígnia: Ibirí (instrumento de fibras da palmeira cujo nome significa “meu descendente o encontrou e trouxe-o de volta para mim”[3]) e Vassoura (vestida com saieta e tecido roxo)

Sincretismo: Santa Ana ou Nossa Senhora da Boa Morte (catolicismo brasileiro), Nossa Senhora do Carmo ou Santa Teresa (Cuba); Hathor (Egito Antigo)

Astro canalizador: Saturno

Fase lunar: Nova (Nascimento) e Minguante (Morte)

Campo de ressonância: Águas de lagoas, pântanos e cemitérios

Cor: Lilás, roxo (qualidades do preto) e branco

Número: 13

Odu: Eji Ologbon

Flores: Dálias, rosas vermelho escuro e palma lilás

Essências: Narciso ou violeta

Imãs (comida): Berinjela, inhame, uva rosada, mingau de creme de arroz no dendê

Libação: (bebida) Suco de uva roxa

Metal: Platina, Ouro Branco e Chumbo

Pedra: Ametista

Datas comemorativas: 26 de julho

Dia da semana: Segunda-feira

Horário vibratório: 21h às 6h (morte) e 6h às 9h (nascimento)

Ervas: Erva-de-Passarinho (Àfòmón); Língua-de-Galinha (Àlùpàyídà); Aguapé (Ejá Omodé); Melão-de-São-Caetano (Ejìnrìn); Feijão-preto (Èwà Dúndún); Balaio-de-velho (Ewé Sole); Xaxim (Idé); Palha-da-costa (Ìkó); Azedinha-do-brejo (Ìmu); Nenúfar (Òsíbàtá); Arnica-do-campo (Tamandé); Amoreira (Isan); Manacá; Quaresmeira; Trapoeraba Roxa; Berinjela; Vassourinha. Número de Folhas 13 ou 16

 

[1] VERGER, Pierre Fatumbi. Orixás. 6. ed. Salvador: Corrupio, 2002. p. 241.

[2] BENISTE, José. Orun – Àiyé. 5. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006. p. 265.

[3] SANTOS, Juana Elbein dos. Os Nàgô e a morte. 11. ed. Petrópolis, Vozes, 1986. p. 82.

 

 

bottom of page