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OGUM

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Por Matheus H. A. de Macêdo e Luiz Antonio Martins

 

Originalmente, Ogum era o Orixá que regia a colheita, a caça e a guerra. Para um umbandista moderno pode parecer estranho pensar nesse Orixá, comumente entendido como impulsivo e beligerante, na figura de um agricultor arando a terra e dela colhendo os frutos. Muitos atribuem à chegada dos africanos e sua nova dinâmica religiosa enquanto escravos esse novo entendimento da força de Ogum como Orixá da guerra e não mais da agricultura. Assim também passou-se à Oxossi o domínio da caça, domínio já exercido no culto africano original. O fato é que todos os instrumentos são consagrados à Ogum uma vez que, acima de tudo, é ele o Orixá da forja e da metalurgia, processo de manipulação dos metais.

 

Por isso um dos símbolos desse Orixá são as sete ferramentas juntas que representam exatamente esse poder sobre os metais em especial o ferro, considerado o metal negro, símbolo da relação de Ogum com o elemento terra.

Entendemos Ogum, acima de seu papel mitológico, como o Impulso Divino primordial. Seria este Orixá a força que rege todo início de movimento. Para a física newtoniana seria a força que rompe o atrito estático, aquela barreira a todo início de processo. Quem não percebe que o começo de um processo pode parecer lento e difícil mas que a continuidade de um processo já iniciado não parece tão maçante assim? Pois é Ogum aquela energia que possibilita o início do que quer que seja. É a explosão inicial e a quebra do equilíbrio estático.

 

Também em Ogum vemos uma forte relação com todos os Orixás. Ele é considerado um dos Orixás mais antigos, já que estava lá quando tudo foi iniciado. É considerado força irmã da energia de Exu, o movimento, e muitos mitos dizem que Exu e Ogum andam sempre juntos. É irmão mais velho de Oxossi uma vez que o trabalho do caçador é enormemente facilitado com a utilização do metal e dos instrumentos de caça. Seria filho de Yemanjá, que seguiria ao lado do filho em suas batalhas recebendo o nome de Yemanjá Ogunté, qualidade guerreira da Orixá Mãe. Teria sido amante tanto de Oxum como de Yansã, tendo com a última nove filhos, como se da interação dessas duas forças tivessem sido formados os nove espaços do Orum (Céu).

 

Muitos mitos apontam forte interação entre Ogum e Nanã enquanto energias opostas e em conflito. Devemos compreender aqui a alusão simbólica do mito quando relaciona a dificuldade de interação de duas forças claramente antagônicas, não pensando que literal é a briga entre dois Orixás, princípios divinos fundamentais. Da mesma forma devemos buscar entender a rixa relacionada na interação entre Ogum e Xangô.

A força ativa de ambos, considerada guerreira e dominadora, é relacionada nos mitos com uma constante briga entre os dois Orixás. Não podemos trazer para a esfera do humano essa “briga” como se comparada a um desentendimento entre vizinhos.

 

Aqui, temos a demonstração da dinâmica energética cósmica em busca do Equilíbrio. O Cosmo não é pura harmonia uma vez que o movimento, as mudanças e a constante adaptação são empregeradas por choques. Isso é verdade no plano pequeno de nosso planeta, com seus terremotos e guerras humanas, mas também no plano estelar, com as explosões de estrelas e colapsos de sistemas estelares inteiros. Ogum é o Orixá do movimento e do Impulso. Sua energia se relaciona com todo processo de revolta que gera uma mudança em relação ao padrão anterior. Dizem ser a energia da conquista que não se preocupa com a manutenção do conquistado. Todas essas idéias transformam Ogum na figura mitológica do grande guerreiro. O grande general que lidera e vence todas as batalhas.

 

O guerreiro valente e impulsivo que com sua ira e suas armas submete todos os inimigos e derruba todos os obstáculos. É um Orixá fortemente relacionado com os elementos terra e fogo, este último mais comum em nossa Umbanda é explicitado pela cor deste Orixá, o vermelho. O branco também atribuído a Ogum mostra sua relação primordial com a Criação, enquanto impulso original de todo o criador.

Verger estabelece um modelo do arquétipo demonstrado pelos filhos deste Orixá que está bem de acordo com o nosso entendimento quando diz que “O arquétipo de Ogum é o das pessoas violentas, briguentas e impulsivas, incapazes de perdoarem as ofensas de que foram vítimas. Das pessoas que perseguem energeticamente seus objetivos e não se desencorajam facilmente.

 

Daquelas que nos momentos difíceis triunfam onde qualquer outro teria abandonado o combate e perdido toda a esperança. Das pessoas que possuem humor mutável, passando por furiosos acessos de raiva ao mais tranqüilo dos comportamentos. Finalmente, é o arquétipo das pessoas impetuosas e arrogantes, daquelas que se arriscam a melindrar os outros por uma certa falta de discrição quando lhe prestam serviços, mas que, devido à sinceridade e franqueza de suas intenções, tornam-se difíceis de serem odiadas.”¹

 

Podemos complementar essa definição com a defendida por Beniste que afirma que os filhos de Ogum “nada temem – atléticos, agressivos e de mau humor – como maridos são brutais e insensíveis – viris e conquistadores – costumam separar e juntar – são rápidos – agem sem pensar – ofendem-se facilmente – insistem naquilo que desejam – emotivos, impacientes e brigões – arrependem-se facilmente – gostam de comer bem e de beber – temperamento difícil – muita iniciativa”.² Ogum rege, no corpo humano, o sistema nervoso, as mãos, os pulsos e o sangue.

As origens de Ogum datam dos tempos proto-históricos e sua função de Asiwajú, aquele que toma a vanguarda, aquele que vai na frente dos outros, o que precede, o converte no símbolo do primogênito que, através de sua agressão, abre o caminho para quem o segue. É um desbravador em todo o sentido do termo.

 

A imagem que seus mitos nos transmitem nos conduz a associá-lo à do homem pré-histórico, violento e pioneiro. Ele caça e inventa as armas e as ferramentas, primeiro de pedra, depois de ferro. Depois de ter sido um destemido caçador, conhecedor dos segredos da floresta, ele se fez ferreiro e soldado. Está associado àquela remota época em que o caçador foi a vanguarda da civilização.

Protetor dos militares e guerreiros. Tem ânsia de conquistas, mesmo que não tenha nenhuma estratégia, o que o difere de Xangô.

 

Diz-se que “Ogum não pede, Ele toma”. Tem uma grande dificuldade de manter as suas conquistas. Nas lendas Ogum conquista, mas é Oxossi quem zela pelo lugar conquistado. Ogum é um excelente executor de idéias; é impaciente, sincero, violento e brigão. Ogum é muito imaturo e fácil de ser enganado.Abre os caminhos junto com Exu. É objetivo. É o senhor das contendas sempre atacando pela frente, de peito aberto. Sabe armar arapucas para pegar o inimigo. Pensa muito pouco, possuindo seus sentimentos em ebulição. Estimula os outros fervendo a ira. É o Senhor dos objetos cortantes e armas de fogo. Carrega a força de qualquer impacto, vibrando em todos os momentos impactantes. É o que ferve o sangue. Está presente no calor das coisas, principalmente no fogo. É a força instintiva de Marte.

 

Padroeiro de todos aqueles que manejam o ferro, como lanterneiros, maquineiros e ferreiros. Os filhos de Ogum não podem ter vícios, principalmente com bebidas e drogas. Não conseguem falar manso, gostando das disputas até no falar. São práticos e não são egoístas, gostando de fazer doação de suas coisas. Ogum é o símbolo do trabalho, da atividade de criação e expansão. Precisa exercitar-se fisicamente, colocando toda a sua energia para fora. Na África Ogum é um Orixá muito temido. Os filhos de Etá Ogundá não são feitos no santo e aceitos na comunidade, pois sofrem muitos ataques de ira. São apaixonados por viagens, mudanças de endereços, curiosos, adoram inovações tecnológicas. As doenças mais associadas a Ogum são relacionadas às articulações, aparelho digestivo e fígado. No movimento de suas danças, revela a ação de luta, de abrir novos caminhos e desbravar os matagais.

 

Seu dia é 23 de abril. No Rio sincretiza-se com São Jorge e na Bahia com Santo Antonio, que era um general. Seu dia da semana é a terça-feira e suas cores são o vermelho e branco. Seus domínios são as estradas, encruzilhadas, cachoeiras e o mar. Um de seus pratos prediletos é o cará enfeitado com 42 mariôs.

 

 

[1] VERGER, Pierre Fatumbi. Orixás. 6. ed. Salvador: Corrupio, 2002. p. 95.

[2] BENISTE, José. Orun – Àiyé. 5. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006. p. 263.

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